Fim da abundância, remodelagem de consumo e geração Z: os focos do varejo do amanhã – Adm. Marcelo Souza e Silva

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Adm. Marcelo de Souza e Silva
Conselheiro do CRA-MG e Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH)

Por mais um ano desembarcamos na NRF’s Big Show, maior evento de varejo do mundo, para entender quais serão as tendências e direcionamentos ao longo de 2024. Acompanhado de alguns dos meus vice-presidentes, fui a Nova York fazer uma imersão de conhecimento junto aos grandes nomes do varejo mundial.

Alguns pontos foram comuns a quase todas as palestras: o fim da era da abundância, a remodelagem dos padrões de consumo e um olhar especial para a geração Z.

O fim da era da abundância, que há algum tempo vem sendo discutido, torna-se cada dia mais próximo, afinal, tensões geopolíticas, climáticas e econômicas diminuem as possibilidades de compra.

Como reflexo, temos novos formatos de consumo que, a partir de agora, consideram não apenas preço e qualidade. Os clientes estão atentos ao impacto ambiental de seu consumo e as responsabilidades exercidas pelas marcas que consomem.

Para se sobressair nesse cenário, a consultora Kate Ancketill, fundadora da consultoria GDR, que atende marcas como P & G e Microsoft, destacou que a valorização de experiências imersivas e digitais será o caminho. Kate fundamentou sua crença no fato de que o mundo não possui mais recursos naturais para manter o ritmo de consumo atual.

Também existem barreiras que nos impedem de cumprir, com a velocidade necessária, os objetivos dos acordos climáticos em todo o planeta. Por isso, minimizar o impacto ambiental das experiências do consumidor é fundamental. E, neste ponto, o digital será um excelente aliado. Que tal trocar o brinde feito 100% de plástico por QR Code que leva o cliente a um ambiente de descontos e benefícios?

Outra reflexão de destaque foi a pirâmide etária. Em um futuro próximo, a geração Z será a grande massa trabalhadora ou, pelo menos, é o que se prevê. Essa faixa populacional é a primeira geração do século XXI, o que  significa que são nativos digitais, totalmente adaptados às tecnologias.

Exatamente por isso, a tendência é que o mercado de trabalho se adapte aos costumes e demandas de uma geração que encara o ‘trabalhar’ de forma diferente. Para a geração Z, rotinas exaustivas, burocracia e falta de um relacionamento horizontal entre líderes e liderados são alguns dos repelentes na escolha do local de trabalho. Eles precisam estar alinhados com os mesmos propósitos de onde trabalham.

Por outro lado, esse público detém a linguagem, a perspicácia e o entendimento deste mesmo público que, em breve, também ocupará os locais de consumo.

Aprender com a geração Z, adaptar-se – dentro do limite – aos seus desejos, e envolvê-la em todas as etapas do negócio será fundamental para as marcas que almejam longevidade. Para manterem níveis de produtividades satisfatórios, os jovens dessa geração precisam estar alinhados com os mesmos propósitos de onde trabalham.

Diferentemente das edições anteriores, a NRF deste ano nos levou à reflexão sobre a forma como consumimos, como vendemos e até onde estamos dispostos a ir em busca dos lucros. O comércio não é apenas um ato de troca de mercadoria por dinheiro. É uma das atividades mais antigas do mundo e, com ele, estão as características da sociedade, seus anseios, fragilidades e oportunidade de avanços. Atentar-se a esses pontos e alinhá-los às urgências do mundo é fundamental para um comércio que promova mudanças socioeconômicas, culturais e ambientais, algo muito além do lucro. Acredito que um dos grandes desafios do setor em 2024 será a profunda compreensão dessa realidade e fazer com que o futuro do varejo contribua para que a recepção da geração Z, a remodelagem de consumo e o fim da abundância sejam pautas vividas em cada ponto comercial.